É bem verdade que nunca falta o que escrever. Não sou excepção. Mas mais do que escrever para alguém ler, a escrita tem em mim um efeito catártico. E é isso que procuro.
8.3.10

Tenho andado longe daqui. Sempre que isto acontece há uma certa dificuldade em recomeçar. É um não saber muito bem o que escrever.

Começa um novo ciclo. A família perdeu um membro abruptamente. Há feridas a sarar e um reaprender a sorrir. Mas com vontade. Não o sorriso por mera cortesia que de vez em quando nos últimos dias me aflora aos lábios. Um sorriso genuíno. E nisso orgulho-me de ter o R. comigo. Ele é primeiro que tudo um amigo, amigo esse que está presente para não deixar esquecer que há sempre motivos para sorrir por mais traumáticas que as más experiências sejam. E por isso, obrigada.

Ainda assim preciso de escrever sobre isto. Caso contrário nunca teria iniciado um blog.

O suicídio parece prevalecer como causa de morte na família. Talvez esteja a exagerar ao colocar as coisas nestes termos. Talvez esta minha percepção se deva ao facto de as mortes que mais marcaram terem sido assim. A morte por velhice ou por doença embora dolorosas parecem-me mais naturais. E sempre que há uma morte que foge à "regra" o abismo a que nos conduz a pergunta "porquê" torna-nos mais introspectivos.

E porquê é de facto a pergunta que se impõe no suicídio. Mas é ao mesmo tempo o não encontrar uma resposta que a nós pareça racional. Mas suponho que quem o cometa se ache na posse de todas as razões do mundo. Não há de facto nada que se possa fazer.

Mas dói. Dói muito. Saber que ainda podíamos estar na companhia do meu tio S. se ele não tivesse passado por um momento de "cegueira"... Quero acreditar que é de uma cegueira que se trata. Quero acreditar que ele não viu os motivos que se lhe apresentavam para prosseguir esta viagem. Quero acreditar que se esqueceu que a minha tia L. lutou com todas as forças para viver, ainda que em vão, e que ele se esqueceu desse exemplo.

Haveria tanto mais a dizer. Mas a ferida é recente e não sei se será prudente continuar a aprofundá-la. Julgo que é chegada a hora de deixar curar. Aos poucos, lentamente, a rotina voltará. O sorriso voltará à cara de cada um e mutuamente vamo-nos curando. Eu sei que sim.

 

 

sinto-me: enlutada
link do postPor Gita, às 16:34  comentar

25.2.10

Apresento-vos a minha Tufa:

 

 

Faleceu no dia 21 de Setembro de 2007 com quase 14 anos. Foi o meu primeiro e único "animal de estimação". Coloco a expressão entre aspas já que para mim ela era muito mais do que isso. Foi minha companheira em épocas marcantes. E como qualquer amigo de quatro patas, era especial. Especial porque era minha, porque era família. E hoje quero falar dela.

Passou por muito: epilepsia, tumor, problemas cardíacos e por fim uma infecção generalizada. Na altura estava a estagiar em S. João da Madeira e só vinha para casa ao Sábado de manhã. Custava-me muito pensar na ideia de estar longe e acontecer-lhe algo sem que estivesse presente. E assim foi.

Terminei o estágio no dia 20. Era o aniversário de uma amiga da terra do R. e excepcionalmente ficámos até ao Domingo de manhã. A Tufa faleceu nessa noite de Sábado. Nunca vou ter resposta para a pergunta: será que estava à minha espera já que eu ia sempre para casa naquele dia? Foi um acaso? Quero acreditar que até na morte ela foi fiel. Não sei porquê, prefiro pensar que foi isso. E eu deixei-a ficar mal, talvez a tenha desapontado. Resta-me o consolo de saber que não esteve sozinha. Teve ao seu lado os meus pais para quem ela também era especial.

Fui muito feliz com ela. Dediquei-me muito a ela e sei que ela também o fez do seu jeito. Era uma paixão tamanha que ninguém lá em casa quer outro amigo destes. É egoísta? Talvez. Sei que há muitos, infelizmente, a precisar de um lar. Mas além de não querer voltar a passar e observar o sofrimento, não me quero apegar a mais nenhum. Ela foi única. Assim como não se substitui uma pessoa falecida, também não se subsitui um amigo destes.

E porque esta manhã passei no caminho por um cachorro atropelado e não tive coragem de parar e pelo menos retirá-lo do alcatrão, fiquei a pensar nela. Fiquei a pensar como fui fraca por não ter estado com ela no fim da vida e por hoje não ter conseguido compensar isso com um gesto para com um outro amiguinho de alguém que jazia na estrada.

Vou agora tentar engolir em seco este nó que se formou na garganta ao escrever estas palavras, pensar nela e tentar sorrir. Ela merece.

 

 

 

sinto-me: saudosa


 
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